quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

DA GÊNESE DO AUTOR

Pretendo, de fato, parecer um autor vivo se passando por morto para observar, da outra ponta, o que viveu ou ainda vive. Vejamos o caráter romancista de minha índole, expondo a própria vida, ao mesmo tempo, como se já acabada, a si mesmo e aos outros.

O nome escolhido para a apresentação deste interlocutor traz – e disso tenho certeza – mais de mim mesmo que aquele trancado no cartório e registrado nas memórias. Dos dois, mantive um o qual mamãe muito bem escolhera para falar da nobre alma dada a mim. O outro busquei com os etimólogos para falar da ideia feita de mim para mim mesmo.

Nasci e fui criado como um rei no seio de sua amável família; fui preparado para me tornar um César, mas a vida levou-me a outro canto. Lembra-me, porém, que de Nero já fui chamado a larga, não por esse mas por outro motivo que não cabe aqui. Impresso no documento, sempre esteve o epíteto que melhor reluzia a púrpura do meu espírito. Agradeço, portanto, àqueles dois responsáveis por minha existência os quais, mesmo sem saberem de quem se tratava, fizeram a escolha certa para designar sua única prole.

Já o primeiro nome, vindo do grego, nada tinha a ver com o que fui. Assim, optei por mudar no assaz mencionado. A mudança se deu porque, realmente, penso que acrescentei muita luz aos do meu redor durante a vida. Pus, tirando do título que o romano exigira, uma certa divindade na aproximação que alguns tiveram comigo enquanto existíamos. O acaso não foi legal – e peço desculpas pela conotação – com meus idealizadores, como no primeiro caso. No entanto, nada eles tiveram com isso e veja que não os culpo.

Enfim, a alteração que procurei fazer no meu registro está, totalmente, ligada a tentativa de me esconder, de alguma forma, dado o que será posto na sequência. Isso não está relacionado, mesmo, a qualquer outro motivo que possa aflorar na imaginação de um produtivo leitor.

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